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sábado, 27 de agosto de 2011

Humorista ganha a vida divertindo passageiros do transporte público do DF




Publicação: 26/08/2011 08:00 Atualização: 25/08/2011 21:36
Marquinho, pronto para entrar em ação: "Sou o cliente número 1 de todas as empresas de ônibus. Graças a Deus, meu trabalho é reconhecido"

Por mais difícil que seja arrancar risadas de quem usa o serviço de transporte público do DF, Marquinho Candango, 38 anos, cumpre essa missão há duas décadas. Diariamente, ele sai de casa, em Vicente Pires, antes das 7h. Deixa os cinco filhos na escola. Logo depois, a luta começa. Marquinho pega até 25 ônibus em um dia. Em cada um deles, apresenta seu show de comédia. Incorpora a personagem Docinho, mesmo vestido com roupas masculinas.

As brincadeiras são interativas. Do motorista aos passageiros, todos participam. Com Marquinho, tudo vira piada. Ele faz graça com a poeira de Vicente Pires: “Vicente Pires é a cidade que Deus ama. Quando não é poeira, é lama”. Ri da vida amorosa do cobrador, a quem apelidou carinhosamente de “Cobra”, e avalia o visual das mulheres da plateia. A maioria entra no clima e não se ofende com o humor nem sempre politicamente correto. “Eu brinco com todo mundo, mas pego mais no pé de quem está rindo, gostando do show”, explicou o artista. Com 1,63m de altura, ele se equilibra em cima da roleta e pendura-se facilmente nas barras de ferro.

Após a performance, o ator passa o chapéu para quem quiser ajudar. “Aceito notas de R$ 50 e
R$ 100”, brinca. Boa parte dos passageiros contribui com alguns trocados. “Tem gente que não dá nada, mas bate no meu ombro e fala: ‘Parabéns, você vai longe. Tem talento. Deixou meu dia mais feliz’. Isso dá força para continuar.”

Marquinho é famoso entre os usuários de ônibus. Quase todos os motoristas e cobradores o cumprimentam e disputam sua presença. “O povo já sai de casa estressado. É bom ter um Marquinho para melhorar a situação”, disse o motorista Raimundo Galeno, 48 anos.

O ator paga passagem nos coletivos em que viaja. “Sou o cliente número 1 de todas as empresas de ônibus”, disse, entre sorrisos. Garante que já ganhou até R$ 40 a cada apresentação, em veículos lotados. Dessa maneira, conseguiu construir casa própria, comprou um carro e, com essa renda, sustenta a família: a mulher, Miriam Guerra da Silva, 32 anos, e os filhos, Ludmila, 9, Lorena, 8, Gustavo Henrique, 14, Sara,15 e Rayane, 21. “Graças a Deus, meu trabalho é reconhecido. Não tenho do que reclamar”, garante.

A estreia
Na Certidão de Nascimento, Marquinho é Marco Antônio da Silva. Nasceu em Brasília e começou a carreira imitando Carlitos (célebre personagem de Charles Chaplin). Percebeu que poderia ganhar a vida dentro dos ônibus durante uma viagem. “Eu estava no coletivo e me deu vontade de brincar, quebrar aquele climão de ônibus lotado. Comecei a fazer piada, meu vidro de perfume caiu no chão. Virou uma bagunça, todo mundo riu. Resolvi passar o chapéu, dizer que meu nome era Docinho e deu certo”, lembrou.

Desde então, Marquinho não parou. Costuma dizer: “Motorista, se o cobrador é meu marido, o pai dos meus filhos, dê duas buzinadas”. Em poucos segundos, soa a buzina do veículo. O público ri com uma intensidade contagiante. “A última coisa que tenho vontade de fazer dentro do ônibus é rir, mas, quando ele entrou, eu já senti vontade”, contou a estudante Mariana Lima, 28 anos.

Talento
Ele já trabalhou como segurança, vendedor, atendente de uma rede de lanchonetes e muito mais. “Eu tentava ser alguma coisa, mas só podia ser artista. Me lembro de fazer graça na sala de aula e levar bronca da professora”, lembrou.

Ultimamente, ele tem pensado em trocar o nome artístico para Marquinho Brasil. “É para ver se dou sorte e ganho fama nacional, quem sabe até na televisão.” Além de estar nos ônibus, o comediante ministra palestras motivacionais em empresas e faz shows em escolas. “Mas meu sustento mesmo vem dos ônibus. Faço com o maior prazer, porque sinto que as pessoas riem por dentro e por fora. Minha satisfação é saber que a cultura de Brasília não fica parada em lugares restritos”, conclui.

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